Round 6 destaca a importância da inovação e originalidade
Nos antigos tempos de trabalho como repórter em uma grande editora, participei de várias reuniões com leitores da revista em que atuava. Nesses encontros, um grupo de assinantes discutia as matérias publicadas, identificando quais temas desejavam ver abordados. No entanto, quando perguntados sobre as reportagens que mais gostaram, muitos mencionavam textos que eram bem diferentes dos assuntos previamente considerados interessantes. Essa experiência levou à conclusão de que o público, muitas vezes, deseja consumir aquilo que ainda não sabe que deseja.
Com mais de dez anos de experiência na produção de filmes e séries, percebo que essa mesma lógica se aplica ao audiovisual. Apesar dos algoritmos das plataformas de streaming serem capazes de analisar os hábitos de consumo e sugerir conteúdos que os espectadores gostam, essas tecnologias não conseguem prever os anseios mais profundos da audiência. Se fôssemos nos basear apenas nas indicações desses algoritmos, seria improvável que uma série como “Round 6”, da Netflix, tivesse sido produzida. Esse drama, que toca em temas de violência e apresenta uma forte crítica social, não se encaixava nos padrões de sucesso que predominavam no streaming até aquele momento.
“Round 6” quebrou barreiras e trouxe uma nova perspectiva, atraindo um público significativo e gerando discussões sobre questões sociais relevantes. Assim, ficou evidente que, mesmo que os dados apontem interesses específicos, existe um desejo maior, algo que ainda está por ser descoberto pela audiência. A série se tornou um verdadeiro fenômeno e desafiou a ideia de que o que o público deseja é o que já está nas suas preferências mais óbvias.