Remoção dos patinetes azuis em BC: saiba os motivos
No começo de dezembro, Balneário Camboriú entra em seu período mais agitado do ano. As ruas ficam lotadas, os turistas se espalham e os restaurantes, que já estão cheios, formam filas. O trânsito se torna um desafio, e quem vive na cidade sabe que a demanda por transporte rápido aumenta bastante. É nesse cenário que o uso de patinetes elétricos explode, com mais pessoas nas ruas buscando meios de se locomover.
Recentemente, os famosos patinetes azuis da empresa JET começaram a sumir das calçadas. Caminhões passaram a retirar esses equipamentos de vários pontos da cidade, e as imagens não eram nada agradáveis: patinetes empilhados e autos de infração do lado, informando que a fiscalização estava em cima do estacionamento irregular, principalmente sobre calçadas e pisos podotátil, algo que fere a legislação municipal.
A Lei Municipal nº 4.983/2025 proíbe obstruir calçadas para garantir a acessibilidade. Se os patinetes estavam irregulares, a retirada pareceu ser uma medida necessária do poder público. Mas um fato chamava a atenção de quem passava: enquanto os patinetes azuis desapareciam, os verdes, da empresa Let’s Go, continuavam por aí.
E não só isso: em muitos locais, eram os únicos patinetes disponíveis. Para quem queria usar, a situação exigia algo extra: baixar um novo aplicativo, fazer outro cadastro, preencher dados e cadastrar um método de pagamento. Cada patinete azul que era recolhido significava uma corrida a menos, um cliente a menos usando aquele app, e, consequentemente, uma transação financeira que deixava de acontecer. Por outro lado, onde um patinete verde estava presente, a situação era bem diversa.
Com a diminuição da frota azul, a verde ganhava muito mais visibilidade. Com menos opções, os usuários acabavam migrando para a Let’s Go. Essa mudança não era um detalhe operacional; era uma vantagem econômica real em plena alta temporada.
No início, parecia que a situação era uma questão pontual, talvez apenas uma particularidade da fiscalização. Mas com o passar dos dias e novas operações, o padrão ficou mais claro: os recolhimentos atingiam sempre a mesma empresa, repetidamente. A comparação se tornou inevitável, e a população começou a registrar fotos: patinetes azuis sendo retirados enquanto os verdes permaneciam na mesma calçada, muitas vezes nas mesmas condições apontadas como irregulares.
A dúvida que veio à tona foi: por que a fiscalização parecia se concentrar em uma empresa, enquanto a outra operava normalmente?
A Prefeitura de Balneário Camboriú rapidamente se manifestou. Segundo o município, a diferença não estava na fiscalização, mas na documentação das empresas. A Let’s Go tinha apresentado a documentação completa e recebido o Termo de Permissão de Uso do Espaço Público. Já a JET, segundo as informações oficiais, teria entregue apenas parte da documentação e, por isso, não estaria autorizada a operar na cidade.
A narrativa havia mudado. Antes, o problema era o estacionamento. Agora, era sobre credenciamento. Porém, essa nova explicação não acabou com a confusão — pelo contrário, só aumentou.
Se a JET não estava autorizada a operar, como a Prefeitura afirmou, então nenhum patinete dessa empresa deveria estar nas ruas, independente de como estivesse estacionado. A lógica da administração municipal é clara: um veículo sem documentação não pode circular. Mas, na prática, a situação era bem diferente.
Os recolhimentos continuavam pontuais, concentrados em determinados lugares, enquanto a operação da JET não parava totalmente. Por outro lado, os patinetes verdes se consolidavam exatamente no período de maior movimento do ano. Se o problema era administrativo, o critério deveria ser absoluto. Mas, como vimos, havia algo errado nesta lógica.
A investigação abordou o núcleo do problema. O Termo de Referência do chamamento público é claro ao estabelecer que nenhuma empresa pode operar sem um Plano de Implantação aprovado pela Autarquia Municipal de Trânsito. Esse plano é essencial, pois define onde os patinetes podem estar, quantos podem ser disponibilizados por região, e mais. Em um período movimentado como o verão, isso se torna ainda mais relevante.
Ao analisar o processo de credenciamento, percebeu-se que esse plano não estava disponível entre os documentos públicos. Tanto para a Let’s Go quanto para a JET, o plano não foi encontrado. O Click Camboriú entrou em contato com Roberto Carlos Castilho, diretor-presidente da BC Trânsito, em busca desse documento. Até o fechamento dessa matéria, não houve resposta.
Se uma empresa está autorizada, o plano aprovado precisa existir e estar disponível publicamente. Se a outra empresa está em análise, o poder público deveria informar o que está pendente, quando foi solicitado e qual o prazo para finalização dessas questões.
E, enquanto as respostas não aparecem, o verão continua, as ruas estão cheias, e os usuários se desdobram. O que começou como uma fiscalização se transformou em uma situação mais complexa, onde uma empresa parece perder espaço enquanto a outra ganha visibilidade. E tudo isso acontece no período mais lucrativo do ano.
Essa situação deixa uma reflexão: quem realmente está se beneficiando quando as regras não são aplicadas de forma igualitária?



