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Obra do filho de Clarice e os ossos da ditadura em destaque

A Academia Brasileira de Letras, que tem uma longa trajetória de 128 anos, fez história ao eleger uma mulher negra para uma de suas cadeiras. Ana Maria Gonçalves, autora do renomado romance “Um Defeito de Cor”, é a primeira mulher negra a ingressar na instituição, fundada por Machado de Assis, um dos grandes ícones da literatura brasileira.

Em declarações após sua eleição, Gonçalves destacou a importância de sua presença na ABL, afirmando que poderá representar um público leitor que, até então, se sentia ausente na literatura predominante da academia. O livro “Um Defeito de Cor”, que narra a história de Kehinde, uma mulher sequestrada na África e trazida para o Brasil como escravizada, teve um impacto significativo, vendendo mais de 2.000 cópias logo após o anúncio de sua nova posição.

A autora se inscreveu para a cadeira deixada pelo linguista Evanildo Bechara, e as expectativas em torno de sua vitória eram altas. Com 30 votos recebidos entre 31 possíveis, sua eleição se confirmou, representando uma mudança significativa na ABL.

Esse acontecimento contrasta com a eleição de 2018, quando Conceição Evaristo, outra escritora negra, não conseguiu a cadeira que foi para o cineasta Cacá Diegues, apesar de sua candidatura ter gerado grande mobilização social, incluindo um abaixo-assinado com mais de 20 mil assinaturas. A entrada de Ana Maria Gonçalves na ABL abre a possibilidade de que outras vozes, como a de Evaristo, sejam ouvidas e representadas na literatura brasileira.

Além disso, em um evento literário em Paracatu, Ana Maria Gonçalves será homenageada ao lado do escritor português Valter Hugo Mãe. O festival acontecerá de 27 a 31 de agosto e contará com a curadoria de Bianca Santana, colunista de um grande veículo de comunicação.

Em outras notícias literárias, a Fuvest, vestibular que dá acesso à USP, adotou recentemente uma lista de leituras obrigatórias composta integralmente por autoras mulheres, trazendo novas perspectivas para os estudantes. Destaque para “Caminho de Pedras”, de Rachel de Queiroz, que mistura crítica política com uma história de amor durante a Era Vargas.

O influenciador Lucas Henrique dos Santos, conhecido como “Menino do Vício”, compartilha sua trajetória de superação por meio da leitura após ter sido dependente químico. Ele utiliza as redes sociais para encorajar jovens a se dedicarem aos livros.

Esses eventos sinalizam um movimento crescente de inclusão e reconhecimento na literatura brasileira, dias em que novas vozes e histórias começam a se estabelecer no cenário literário do país.

Rodrigo Peronti

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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