Líder quilombola homenageada tinha seu próprio parlamento
O Senado brasileiro iniciou uma iniciativa importante ao criar o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, celebrado em 25 de julho. Essa data homenageia Tereza de Benguela, uma das principais figuras da resistência à escravidão no país. Conhecida como “Rainha Tereza”, ela governou o Quilombo do Quariterê, um território de liberdade que se destacou por sua organização e força, durante cerca de vinte anos.
Tereza de Benguela nasceu na África e foi traficada para o Brasil, possivelmente através do porto de Benguela, em Angola. Ela chegou ao país no século XVIII, e, apesar de não haver registros exatos sobre sua chegada, acredita-se que isso tenha acontecido por volta de 1730. Denúncias da época indicavam que pessoas estavam sendo clandestinamente revendidas e levadas para Mato Grosso, onde se estabeleceu o Quilombo do Quariterê.
O quilombo foi oficialmente documentado pela primeira vez em 1748. Após a morte do rei que o liderava, Tereza assumiu a liderança como “rainha viúva”. Análises de documentos históricos, como os “Anais de Vila Bela”, revelam que Tereza governava de forma coletiva, em um sistema semelhante a um parlamento, onde uma casa era destinada a reuniões do conselho com representantes escolhidos.
Durante sua liderança, o Quariterê enfrentou um ataque em 1770, quando colonizadores prenderam cerca de cem pessoas, incluindo negros e indígenas. Diz-se que Tereza, após ser capturada, acabou tirando a própria vida, embora os detalhes permaneçam incertos. Sua história enfatiza não apenas a força feminina, mas também a diversidade da resistência contra a escravidão e a complexa organização do quilombo.
Vale destacar que, mesmo após o que se considerou a destruição do Quilombo do Quariterê, registros indicam que algumas de suas pessoas sobreviveram e tiveram um papel significativo na continuidade da cultura e da resistência quilombola.
A influência de Tereza de Benguela é sentida até hoje. Alciléia Torres, jovem liderança do quilombo Kalunga em Cavalcante, Goiás, expressa o impacto que Tereza tem nas mulheres quilombolas contemporâneas. Para Alciléia, Tereza representa uma força ancestral que está presente em cada mulher que resiste e trabalha em suas comunidades.
A criação do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra foi oficializada em 2014, a partir de um projeto apresentado pela ex-senadora Serys Slhessarenko, de Mato Grosso. Essa data é uma oportunidade para reconhecer e celebrar as contribuições das mulheres negras na história e na sociedade brasileira.