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Florianópolis investe R$ 687 milhões em nove anos

No último ano, Florianópolis investiu impressionantes R$ 118 milhões em transporte coletivo. Para se ter uma ideia, isso é mais do que o dobro do que a prefeitura de Porto Alegre, que tem uma população bem maior. Desde 2016, a cidade já desembolsou R$ 687 milhões em subsídios para manter o transporte funcionando — um valor que chama a atenção.

Esse número foi levantado pelo Núcleo de Dados do Grupo ND, que analisou as informações disponíveis nos portais da transparência. O levantamento abrangeu um período de nove anos, começando em 2016, que foi quando o Consórcio Fênix assumiu a operação do transporte coletivo na capital catarinense.

Em comparação com outras dez grandes cidades do estado, o valor que Florianópolis destinou se destaca. Em 2024, por exemplo, os R$ 118,6 milhões que a cidade investiu em subsídios foram maiores do que o total de gastos dos outros nove municípios juntos.

O repasse de recursos teve um pico em 2022, onde o valor saltou de R$ 75 milhões em 2021 para R$ 146 milhões. Esse aumento de quase 95% sugere uma resposta aos efeitos da pandemia no transporte público, que em 2020 teve uma queda drástica nos repasses.

Repasse e inflação: onde estamos?

Os subsídios crescem a um ritmo que, em muitos casos, supera a inflação. Entre 2016 e 2024, pode-se observar que os aumentos em 2021 e 2022 foram bem acima dos índices inflacionários.

Ainda que em 2023 e 2024 os valores tenham registrado uma leve queda, eles permanecem altos em comparação com anos anteriores e outras cidades. Essa diferença de crescimento dos subsídios em relação à inflação mostra que os gastos estão descolados do que acontece na economia geral.

Florianópolis gasta mais do que os vizinhos

O total investido pela capital catarinense nos últimos anos ultrapassa a soma do que as outras nove maiores cidades do estado gastaram juntas. Isso é notável, já que Florianópolis tem cerca de 530 mil habitantes e, mesmo assim, supera cidades com populações maiores em termos de subsídios.

No último ano, os R$ 118,5 milhões destinados a Florianópolis foram quase três vezes mais que Blumenau, que ficou em segundo lugar com R$ 41,3 milhões. A diferença em relação a Joinville, a maior cidade do estado, também é expressiva, com Florianópolis gastando mais de quatro vezes o que a cidade desembolsou.

Investimentos de Florianópolis são elevados comparados a Porto Alegre

Outro dado interessante é que, mesmo com uma população bem menor, Florianópolis destina-se um valor consideravelmente maior a subsídios do que Porto Alegre. Em 2024, enquanto a capital gaúcha investiu R$ 36,5 milhões, Florianópolis colocou em pauta R$ 118,5 milhões.

Desde 2016, as despesas com transporte coletivo em Florianópolis chegaram a R$ 687 milhões, superando os R$ 425 milhões gastos por Porto Alegre, que possui mais de 1,4 milhão de habitantes.

Um modelo de fluxo de caixa

O sistema que Florianópolis utiliza é baseado em um contrato de concessão desde 2014, que segue um modelo de fluxo de caixa. Isso significa que as receitas e despesas são calculadas anualmente para determinar a tarifa.

A diferença entre a tarifa técnica e a tarifa pública é coberta em parte pelos subsídios. O secretário Municipal de Infraestrutura, Rafael Hahne, esclarece que a maior parte desse repasse é destinada a custear gratuidades que beneficiam idosos, estudantes e famílias de baixa renda.

Desses subsídios, cerca de um terço vem das gratuidades e dois terços dos próprios usuários, através da tarifa paga nas catracas.

O impacto das gratuidades

Florianópolis conta atualmente com sete tipos de gratuidades e descontos, que são uma parte significativa do total gasto em subsídios. Algumas dessas gratuidades são baseadas em leis municipais, estaduais e federais, como para idosos e pessoas com deficiência.

Além disso, o programa Formiguinha, que oferece ônibus gratuitos para algumas regiões, e a possibilidade de integração entre linhas também adicionam custos ao sistema.

Em busca de um modelo mais acessível

O professor de administração pública da UFSC, Bernardo Meyer, aponta que modelos diferentes de subsídios podem ajudar a baixar o preço da tarifa. Em grandes cidades, o subsídio é usado para amortecer o valor da tarifa, algo que, segundo ele, não se aplica ao sistema de Florianópolis.

Meyer usa o exemplo do metrô de Paris, que é acessível graças a um investimento robusto em subsídios. Se Florianópolis adotasse uma política diferente, isso poderia melhorar o transporte coletivo e torná-lo mais acessível à população.

Rodrigo Peronti

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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