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Banco Central alerta que BRICS não desafiará dólar até 2035

Banco Central do Brasil Não Vê Rivalidade com o Dólar Antes de 2035

O Banco Central do Brasil (BCB) fez recentemente uma análise abrangente sobre a capacidade do BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países, de desafiar a hegemonia do dólar no comércio internacional. A instituição indicou que, embora haja esforços para aumentar o uso de moedas locais e sistemas de pagamento alternativos, não se espera que o BRICS se torne uma alternativa viável ao dólar antes de 2035.

Essa previsão se distancia do otimismo de alguns líderes do BRICS, que defendem uma “desdolarização acelerada”. Eles buscam reduzir a dependência do dólar como forma de minimizar os impactos das sanções econômicas impostas pelo Ocidente e ampliar a autonomia dos países em desenvolvimento. O BCB identificou três obstáculos principais que ainda mantêm o dólar como a moeda central da economia global.

Obstáculo 1: Liquidez e Profundidade do Mercado

O primeiro desafio destacado é a concentração do mercado financeiro no dólar. Atualmente, 58% das reservas internacionais globais estão em dólar, e mais de 80% das transações cambiais diárias envolvem essa moeda. Para que uma moeda do BRICS ou um conjunto de moedas locais se torne competitiva, seria necessário desenvolver um mercado financeiro robusto e líquido. Entretanto, os países do BRICS enfrentam dificuldades, como controles cambiais rigorosos e acesso limitado ao mercado para investimentos estrangeiros.

Sem essa liquidez, empresas e governos tendem a evitar contratos em moedas alternativas, devido à maior volatilidade e aos altos custos relacionados à proteção cambial.

Obstáculo 2: Confiança e Estabilidade

O segundo entrave é a confiança dos investidores. O dólar é visto como a moeda mais segura não apenas por tradição, mas porque os Estados Unidos oferecem um ambiente estável, com um sistema jurídico sólido e regras claras de governança. Muitos países do BRICS têm enfrentado problemas como inflação alta e intervenções governamentais, o que dificulta a criação de um ambiente de confiança necessário para atrair investimentos.

O Banco Central do Brasil enfatiza que a confiança se constrói ao longo do tempo e não pode ser rapidamente estabelecida por acordos políticos ou novas tecnologias de pagamento.

Obstáculo 3: Infraestrutura de Pagamentos

O terceiro obstáculo é a infraestrutura que suporta as operações comerciais globais. Atualmente, o sistema SWIFT e outras redes financeiras dominam as transações internacionais. Mesmo os países que desejam evitar o uso do dólar ainda dependem dessas redes para suas operações. Embora o BRICS esteja se esforçando para desenvolver alternativas e sistemas de pagamento próprios, a integração desses novos sistemas com as redes existentes é complexa e lenta, devido a desafios regulatórios e questões de segurança.

O Papel do Brasil na Desdolarização

Apesar do alerta do Banco Central, o Brasil tem contribuído para projetos voltados ao uso de moedas locais. Um exemplo é o acordo com a Argentina, que permite transações em reais e pesos sem conversão para dólar. Além disso, a moeda digital Drex, atualmente em fase de testes, pode facilitar pagamentos rápidos e baratos no futuro.

O governo brasileiro adota uma postura diplomática, apoiando a diversificação monetária sem confrontar diretamente os Estados Unidos, que continuam sendo um parceiro comercial importante.

Considerações Finais

A previsão de que o dólar permanecerá como moeda dominante até pelo menos 2035 indica que os Estados Unidos manterão influência sobre a economia mundial. Mudanças nas taxas de juros e sanções financeiras ainda afetarão a estabilidade econômica dos países em desenvolvimento.

Para o BRICS, isso torna evidente que uma estratégia de longo prazo é necessária, envolvendo investimentos em infraestrutura financeira e a integração de novas moedas no sistema global. Especialistas concordam que a desdolarização é uma tendência, mas as mudanças significativas não devem ocorrer na próxima década. O desafio é a construção de liquidez, confiança e integração global, fatores que sustentam a dominância do dólar há anos.

Rodrigo Peronti

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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