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Mudanças climáticas ameaçam vaga-lumes e ritual de verão nos EUA

Max Vogel, advogado de defesa pública de 29 anos, estava fazendo um piquenique com amigos no Prospect Park, em Brooklyn, Nova Iorque, no início de agosto, quando avistou flashes de luz ao seu redor. Eram vagalumes, insetos bioluminescentes que ele nunca tinha visto durante sua passagem por Oregon, onde a presença desses insetos é rara. Para muitos americanos que moram em regiões onde os vagalumes são comuns, as luzes piscantes ao anoitecer representam um sinal inconfundível do verão, embora essa tradição esteja ameaçada.

Vogel ficou surpreso ao vê-los novamente. “É como um meteoro que aparece de repente, trazendo um sentimento infantil, como quando você os viu pela primeira vez no seu quintal”, comentou. Este ano, há um entusiasmo renovado para avistar esses insetos, já que especialistas indicam que a população está ligeiramente aumentando, após uma queda significativa nos últimos anos.

Apesar da boa notícia, os cientistas alertam que esse aumento não é um sinal claro de que a tendência de declínio foi revertida. A preocupação com a viabilidade dos vagalumes, que incluem mais de 2.000 espécies, persiste. Alguns desses insetos estão ameaçados de extinção devido a problemas como poluição luminosa e mudanças climáticas.

Candace Fallon, bióloga da Xerces Society, destacou que, embora os relatos do aumento de vagalumes sejam animadores, é difícil afirmar que as populações estão em alta apenas com dados de um único ano, já que as populações de insetos geralmente variam bastante.

Esses insetos, conhecidos também como “luzinhas”, saem à noite no verão e utilizam sua bioluminescência, principalmente, para atrair parceiros. Culturas ao redor do mundo valorizam os vagalumes. No Japão, por exemplo, eles representam amor e lembrança de soldados caídos.

Desde tempos antigos, as pessoas costumam coletá-los em noites quentes, tanto para diversão quanto para fins científicos. Matt Schlesinger, zoologista chefe do Programa de Patrimônio Natural de Nova Iorque, enfatizou que pegar vagalumes é uma atividade que conecta as pessoas à natureza.

Entretanto, os cientistas que estudam esses insetos nos Estados Unidos e Canadá enfrentam dificuldades, pois falta dado básico sobre as espécies, dificultando a quantificação da redução populacional. Em um estudo recente, foi descoberto que 18 espécies na América do Norte estão ameaçadas de extinção, mas para mais da metade das espécies avaliadas não há dados suficientes para determinar seu risco.

Os principais fatores que contribuem para a diminuição dos vagalumes são a degradação e perda de habitat. Isso inclui a destruição do solo por meio do desenvolvimento urbano, poluição luminosa e uso de pesticidas. O excesso de luz artificial à noite prejudica a comunicação e acasalamento desses insetos. Além disso, as mudanças climáticas, como secas e aumento do nível do mar, também impactam suas populações.

Ainda assim, algumas espécies de vagalumes parecem estar bem, segundo Schlesinger. Entretanto, as que habitam ambientes específicos, como o “vagalume da grande constelação”, mais comum em quintais suburbanos, enfrentam dificuldades. A recente revitalização dos vagalumes é atribuída ao aumento das chuvas neste ano.

Crianças, como Riley Witzl, de cinco anos, têm a chance de vivenciar a alegria de ver e até mesmo correr atrás dos vagalumes. Para preservar essa tradição, Schlesinger recomenda que as crianças capturem os vagalumes em frascos apenas para observá-los e, em seguida, os soltem.

Outras maneiras de ajudar os vagalumes incluem evitar o uso de pesticidas, reduzir a iluminação artificial durante a noite e deixar a grama crescer mais alta, além de acumular folhas nos jardins, já que muitas espécies se desenvolvem nesse tipo de ambiente.

Apesar das preocupações sobre a extinção, Fallon menciona iniciativas positivas, como a criação de santuários para vagalumes em Arkansas e a recente legislação aprovada em Maryland que regulamenta o tipo de iluminação financiado pelo Estado. Ela acredita que as pessoas estão cada vez mais conscientes da importância de preservar os vagalumes. Fallon concluiu que pequenos habitats podem ser cruciais para garantir a sobrevivência dessas espécies e que é vital definir prioridades e agir a favor da natureza.

Rodrigo Peronti

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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